domingo, 29 de novembro de 2009

Exemplos a serem seguidos

Praças públicas são adotadas por empresários paulistas

Empresários de São Paulo encontraram uma boa maneira de se mostrar politicamente corretos e contribuir significativamente para a melhoria da paisagem urbana da cidade. Cada vez mais, eles se comprometem em cuidar e preservar praças e canteiros públicos.

Advogado faz sucesso adotando praças públicas

O advogado e ambientalista Paulo Roberto Rebocho mantém seis áreas verdes espalhadas pela cidade de São Paulo. O advogado encara a manutenção das áreas verdes como um hobby saudável e um excelente exercício de cidadania.

A história começou há três anos, quando o Instituto Adolfo Lutz homenageou a jornalista Débora Rebocho, mãe de Paulo Roberto, com uma praça homônima. O espaço era simples e o advogado sentiu que seria uma maneira interessante de lembrar a memória de sua mãe se cuidasse melhor da área. Começou então um trabalho que hoje mantém preservadas seis áreas verdes em toda São Paulo.

Os bons resultados do primeiro esforço levou a convites para repetir a dose. Foi oferecida ao advogado manutenção das praças Simão Bolívar e Califórnia, que são vizinhas. O consulado da Venezuela, responsável pela oferta, ficou tão satisfeito com o capricho de Paulo Roberto que pediu que este cuidasse também de uma área verde na Av. Paulista. Para o trabalho, o governo da Venezuela chegou a oferecer uma escultura de Francisco Miranda.

Para Rebocho, a contribuição não se limita a preservação do verde na cidade. "Com a limpeza e ordem destes espaços, a segurança vem à cavalo." comenta, referindo-se à redução de ocorrências criminais na região, após o início da preservação das praças.

A iniciativa de Paulo Rebocho funciona com consentimento contratual da prefeitura. Os interessados pela atividade só precisam assinar o mesmo documento da Secretaria do Meio Ambiente e arregaçar as mangas. Segundo Paulo Rebocho, o custo de manutenção não passa de mil reais por mês.

O advogado reuniu ainda uma praça e chegou a doar uma escultura de sua própria autoria para o projeto Procentro, que vai ser exibida no Vale do Anhangabaú.

(Jota Ribeiro - Portal Aprendiz)

Empresários adotam praças públicas em SP

Rendida à voracidade publicitária, a cidade de São Paulo experimenta agora um dos poucos bons frutos do marketing: a adoção de praças e canteiros por empresas, cujo único retorno é uma plaquinha que as identifica.

Politicamente correta, a idéia, além de ligar uma instituição às bem-vistas causas ecológicas, ainda garante uma economia de R$ 90 mil mensais ao município. Atualmente, a cidade tem 60 áreas adotadas, num total de 300 mil M².

As principais avenidas foram os primeiros alvos, como por exemplo a Cidade Jardim e sua continuação, Tajurás, cujos canteiros centrais são cuidados por um banco. "É um lugar de grande fluxo, por onde passa um público interessante ao banco", explica o superintendente de marketing, Christian Jaques Magalhães Santos.

A escolha da avenida teve o cuidado de considerar a agência do banco na Av. 9 de Julho. "A pessoa passa por três quilômetros vendo plaquinhas e já desemboca na nossa agência."
Ao custo mensal de R$ 25 mil, a tática parece eficaz: "Houve casos de clientes que nos telefonaram para aprovar a idéia. Teve até quem abrisse conta por causa disso", diz Christian.

"Hoje em dia, a ecologia é muito valorizada. Acho que em pouco tempo estas áreas estarão sendo até disputadas."

A Avenida Brasil é outro caso de adoção por empresa privada, a MasterCard. Em toda a sua extensão, a avenida tem 6 praças, 28 canteiros centrais e 12 laterais. Serão todos reconstituídos de acordo com a vegetação nativa: quaresmeiras, ipês, guaimbés, agapantus, etc.

Por se tratar de publicidade, mais do que preservação ambiental, a distribuição de praças e canteiros adotadas na cidade é desigual. A maioria das escolhas concentra-se nas áreas nobres da cidade, com especial interesse pelos canteiros. É onde o fluxo de pessoas se alia a um bom potencial de consumo. Praças tranqüilas, justamente por serem tranqüilas, são evitadas.

Para tornar mais ágeis as parcerias, cada Administração Regional tem autonomia para concretizar um acordo, renovável a cada dois anos.

Levantamento da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente confirma a má distribuição de áreas verdes por Regional, aí incluindo os parques públicos. De acordo com o secretário Werner Zulauf, a zona leste é a mais prejudicada. "Estabelecemos a meta de 1 M² de parque municipal por regional", diz.

A cidade tem 31 parques municipais. Um projeto ambicioso, cuja execução é prometida por Zulauf até o fim de sua gestão, prevê a criação de novos 20 parques. Para tanto, as áreas não terão de ser compradas. Algumas já pertencem à Prefeitura, outras, como uma fração da USP, foram cedidas em convênios já assinados. "O caixa esteve baixo, mas começaremos já no início do ano que vem", promete o secretário.

Por conta dos moradores

Praças e canteiros de menor visibilidade, portanto pouco interessantes a empresas, estão condenadas à manutenção pública. Mas algumas associações de moradores se cansaram e resolveram cuidar elas mesmas destes espaços.

"É um privilégio poder morar em frente de uma praça. E se a Prefeitura não cuida, alguém tem de cuidar", resume Camila Queiroz Luna, 33 anos, 31 dos quais vividos em frente da Praça Morungaba, zona sul. "Sorte dos meus três filhos, que não precisam ficar enfurnados em casa para brincar."

Por R$ 17,00 mensais, os moradores recuperaram a praça, que conta agora com uma equipe de três vigilantes. "Ela nunca vai voltar a ser como a conheci, mas já está muito melhor", diz a mãe de Camila, Thereza Rita Junqueira de Queiroz. O próximo passo é consertar os brinquedos para as crianças. "Já avisamos várias vezes a Prefeitura, mas até agora nada", diz Thereza. Outra vez, ela supõe que terão de resolver o problema por conta própria.

Por se tratar de interesse exclusivo dos moradores, estas iniciativas são bem distribuídas pela cidade, do que são exemplos a recuperação da Praça 14 Bis, na zona norte, e a da Praça Fiat Lux, zona oeste.

Entre quem mais se beneficia da revitalização de praças, estão os moradores de rua. Desde que, é claro, o local não seja cercado ou vigiado por seguranças particulares que tratem o espaço público como um jardim privado.

Um exemplo é a Praça Edgard Thomaz de Carvalho, na esquina da Avenida Brasil com Rua Gabriel Monteiro da Silva. A área pertence à Prefeitura, mas foi a empresa Encepa, que possui terreno em frente, que resolveu arrumá-la.

As moradoras de rua Edineuza Alves Cardoso, de 19 anos, e Silvana de Cassia Almeida, de 29, adotaram a praça porque não é visada pela polícia. Sem saber, têm o privilégio de morar num projeto de Burle Marx. "Preferia não estar aqui. Mas não tenho muita opção", diz Edineuza. Em breve, talvez, elas tenham uma a menos. É que a empresa, em reforma, tem um projeto para outra revitalização da praça, na qual talvez não caiba gente da rua.

(Jornal da Tarde)

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